Assad ou grupos islâmicos: o que é melhor para a Síria?

O conflito na Síria enfrenta mudanças dramáticas, com a ascensão de grupos sunitas apoiados pela Turquia ameaçando o regime de Assad e aumentando a instabilidade regional.

O conflito na Síria passou por uma mudança dramática após anos de impasse, durante os quais o regime de Bashar al-Assad, apoiado por Rússia e Irã, manteve a vantagem. Grupos sunitas apoiados pela Turquia, incluindo o Hay’at Tahrir al-Sham (HTS), ligado à Al-Qaeda, tomaram Aleppo e estão avançando para o sul. Esse avanço causou o colapso do Exército Sírio, que recuou de Hama para posições defensivas próximas a Homs, uma cidade estratégica. A repentina deterioração do regime alimentou rumores de um golpe em Damasco, ameaçando encerrar décadas de governo da família Assad.

Apesar de seu histórico brutal, a queda de Assad gera preocupações sobre o que virá a seguir. Seu regime, acusado de usar armas químicas, torturar sistematicamente e facilitar redes terroristas, também funcionava como um contrapeso aos grupos extremistas. No entanto, uma vitória rebelde poderia fortalecer facções islamistas radicais e desestabilizar ainda mais a região. A oposição, agora dominada pelo HTS e outras facções jihadistas apoiadas pela Turquia, apresenta sérios riscos, especialmente para minorias como cristãos, curdos e yazidis, que têm sido protegidos pelas Forças Democráticas da Síria (SDF), lideradas pelos curdos.

Turquia

A participação da Turquia complica ainda mais o cenário. Assim como o Irã, a Turquia busca dominar a região por meio de influência militar e ideológica, usando proxies para expandir seu alcance. Permitir que Ancara preencha o vácuo de poder após a queda de Assad poderia fortalecer facções sunitas radicais, desestabilizar países vizinhos como Jordânia e Israel e comprometer os interesses ocidentais no Oriente Médio. A política externa cada vez mais assertiva da Turquia levanta preocupações sobre sua crescente influência na região.

Esse cenário força os legisladores a enfrentarem escolhas difíceis. Manter um Assad enfraquecido no controle de Damasco ou dos redutos alauítas na costa pode ser preferível a permitir que um regime sunita islamista radical, apoiado pela Turquia, assuma o poder. Tal mudança poderia comprometer a segurança regional e perpetuar ideologias extremistas, agravando o ciclo de violência e instabilidade.

Embora a saída de Assad seja inevitável, a maneira como o vácuo de poder será gerenciado terá implicações profundas. Entregar o controle à Turquia pode perpetuar o terrorismo e o radicalismo, trocando um regime autoritário por outra força hostil. O desafio está em conduzir a Síria para um futuro que rompa com o autoritarismo e o extremismo, garantindo a estabilidade do país e da região como um todo.

Artigo traduzido e adaptado de Middle East Forum

Publicado em Perspectiva News

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